Nesta série de textos, cada capítulo proporciona uma viagem por cada um dos oito temas da Campanha tODxS pela Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global, começando pelo mundo e acabando na Guiné-Bissau, começando com um ponto de situação global e acabando com o trabalho, atual e imediato, de tantos no progresso e desenvolvimento desse país.

O aumento de temperatura é o efeito da cada vez maior concentração de dióxido de carbono (C02) por cada unidade cúbica de ar, resultando na retenção de calor e na interrupção de ciclos meteorológicos. Esta perturbação conduz a padrões climáticos mais imprevisíveis e ao aumento da frequência de secas, inundações e outros fenómenos prejudiciais à biodiversidade e à sobrevivência de ecossistemas. As emissões de carbono podem, por isso, ser consideradas um dos indicadores mais relevantes para a medição da sustentabilidade global.
O aumento de temperatura é, no entanto, apenas uma das ameaças à sustentabilidade da vida organizada humana e à conservação da biodiversidade e dos ecossistemas. O Centro de Resiliência de Estocolmo identificou, em 2009, mais oito limites planetários interrelacionados e dentro dos quais é seguro operar. Estes limites, cada vez mais reconhecidos e utilizados internacionalmente, incluem, para além da concentração de CO2, a destruição do ozono estratosférico, a carga de aerossóis atmosféricos, a acidificação dos oceanos, e a modificação de fluxos geoquímicos.
De acordo com os dados mais recentes, seis destes nove limites planetários já foram ultrapassados. À parte da destruição da camada de ozono, que tem vindo a recuperar de forma estável há várias décadas, cada fronteira planetária está sob pressão crescente, com impactos nos ecossistemas, nas sociedades humanas e no Sistema Terrestre como um todo. Como a distribuição de impactos não será igual em cada geografia, é fundamental fortalecer a coordenação internacional de esforços de mitigação e adaptação, protegendo, assim, a coesão internacional necessária para o desenvolvimento sustentável.
Apesar do amplo consenso sobre a necessidade urgente de reduzir emissões de carbono, a produção global de CO2 só tem crescido nas últimas décadas. Como o projeto de pesquisa Global Carbon Budget demonstrou, as emissões provenientes de combustíveis fósseis e várias indústrias aumentaram quase exponencialmente nos últimos trinta anos, mesmo após a assinatura no Rio de Janeiro, em 1992, da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.

Fonte: Global Carbon Budget (GCB), 2024.
Embora as emissões globais de carbono tenham aumentado, muitos países, incluindo alguns dos mais ricos, têm conseguido dissociar o crescimento económico das emissões de carbono. Isto sugere que é, de facto, possível desenvolver-se economicamente e atingir padrões de vida mais elevados sem explorar recursos mundiais e danificar irreparavelmente ecossistemas.
O aquecimento e a eletricidade são responsáveis por dois terços a três quartos das emissões globais de carbono, de acordo com estimativas recentes. São, a par das emissões provenientes da produção alimentar, a área em que é mais crítico reduzir as emissões. O mercado de energia tem tido, no entanto, uma vasta transformação, com fontes renováveis de energia já muito competitivas economicamente com fontes de energia tradicionais, como o carvão, o petróleo e o gás. A experiência e o conhecimento que se foi ganhando com a construção de centrais solares, eólicas ou hidráulicas significa que hoje, tomando em conta os custos de produção de energia e de construção e manutenção de centrais, estas fontes renováveis são mais baratas que centrais de pico de gás e de energia nuclear.
Dado este importante avanço, e dado o aumento extraordinário de emissões de carbono, é da maior urgência acelerar o desenvolvimento de uma economia com zero carbono através de uma transição energética. As fontes de energia eficientes em termos de carbono, como as energias renováveis, os biocombustíveis modernos e a energia nuclear, representam apenas 17,4% da produção global de energia. Os restantes 82,6% estão distribuídos entre o petróleo (29,78%), o carvão (24,87%), o gás natural (21,89%) e os combustíveis de biomassa (6,1%). A exportação de tecnologias, a partilha de conhecimento técnico e logístico, será crítica nos próximos anos, até 2030.
De acordo com o Climate Risk Index de 2025, que mede danos climáticos na base de mortes humanas, número de pessoas afetadas (incluindo os cerca de 20 milhões de “refugiados climáticos” que anualmente abandonam as suas casas e se deslocam para os países vizinhos, por norma os países mais pobres do Sul Global) e perdas económicas, a Guiné-Bissau enfrentou relativamente menos danos climáticos do que a maioria dos países nos últimos trinta anos, tal como outros países na região, como o Senegal, a Gâmbia e a Guiné-Conacri.
Se esta dinâmica climática mudar, os perigos serão gravíssimos para a Guiné-Bissau e este conjunto de países vizinhos. Aproximadamente 75-80% da população da Guiné-Bissau depende dos rendimentos agrícolas para o seu sustento. Isto significa que, caso aumente a frequência de catástrofes climáticas, os mais pobres da Guiné-Bissau serão privados da sua principal fonte de rendimento, expostos a insegurança alimentar e possivelmente a fome crónica. O aumento de temperatura poderá se manifestar através de ondas de calor prolongadas, que causarão, como aconteceu em Portugal, Espanha, Grécia e Itália em 2022, um aumento significativo de mortes por insolação. A crescente frequência de tempestades de maior intensidade significará que, num país de grande pobreza, as habitações precárias e as infraestruturas (como estradas, centros de saúde e portos) poderão ser danificadas ou até destruídas. Para além da insegurança alimentar, as perdas de rendimento diminuem também o acesso aos cuidados de saúde, que na Guiné-Bissau são pagos através do próprio bolso. Dada a dimensão da mortalidade materna e infantil na Guiné-Bissau, as alterações nos padrões climáticos podem muito plausivelmente colocar um sistema de saúde já muito imperfeito sob uma pressão considerável.
Existem, então, quatro dimensões, cada uma interrelacionada, em que a Guiné-Bissau poderá ser perigosamente vulnerável na eventualidade de uma disrupção de padrões meteorológicos: na saúde, na segurança alimentar, na pobreza e na resiliência de infraestruturas para o desenvolvimento económico.
O governo apresentou o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), para o período de 2020-23, que visa desenvolver a economia através de um uso responsável de recursos naturais, preservar a biodiversidade, combater a insegurança alimentar e expandir o acesso a fontes de energia, entre várias outras prioridades de desenvolvimento sustentável. Resta ver a medida em que as políticas públicas coerentemente avançam estes vários objetivos, e como a ação de outras nações pode reforçar o trabalho de mitigação e adaptação da Guiné-Bissau.
Ouça o Jorge Handem a falar sobre a perceção da sustentabilidade na Guiné-Bissau, e dos desafios a curto e médio prazo na área do ambiente e da sustentabilidade.
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